A próxima temporada de cruzeiros no Brasil está confirmada para novembro. Fora isso, há muitas dúvidas: não se sabe quais navios virão ao país, quais protocolos as companhias vão seguir, se haverá demanda e como estará a pandemia até lá.
A última temporada teve que ser interrompida, em março, por causa da Covid-19. Antes de paralisarem as atividades, as empresas já haviam virado notícia pelo mundo —o navio Diamond Princess, por exemplo, ancorado na costa do Japão, registrou 712 casos da doença e 13 mortes.
O setor luta faz tempo para combater a imagem de ser um local propício para a propagação de doenças, desde surtos de gripe até de norovírus, que causa infecção intestinal.
O maior mercado mundial de cruzeiros, os Estados Unidos, segue fechado.
As embarcações não vão voltar a navegar no país pelo menos até 15 de setembro, o que significa que toda a temporada de verão foi afetada, incluindo viagens ao Caribe.
No Brasil, também há mudanças. A principal é que o navio Pullmantur Soberano, que é fretado pela CVC, deixa de vir ao país. A empresa detentora do barco entrou com pedido de recuperação judicial, e a CVC suspendeu a comercialização das viagens.
“Os clientes estão sendo contatados para remanejar suas reservas em transatlânticos de outras companhias ou utilizar o crédito junto à CVC”, afirmou a operadora em nota.
Para o agente de viagens Igor Welster, especializado em cruzeiros, é uma grande perda para a temporada.
“Era o único navio all inclusive, com bebidas alcoólicas, e também o único que financiava a compra no boleto”, diz.
Assim, a temporada 2020/2021 terá apenas cruzeiros da MSC e da Costa.
Perguntada sobre quais navios traria, a Costa disse que não poderia responder. Segundo a CVC, que vende viagens da companhia, até o momento a Costa trará as embarcações Fascinosa, com saídas de Santos e roteiros pelo Nordeste, e Luminosa, com roteiros para a Argentina e embarques em Santos e Itajaí (SC).
Já a MSC confirmou três navios. A novidade seria a vinda do Grandiosa, inaugurado em 2019, com capacidade para 6.334 passageiros —o maior que o país já teria recebido.
Porém, a empresa decidiu substituir a embarcação pelo Seaview, para 5.331 hóspedes, que já fez duas temporadas aqui. Ele fará roteiros para o Nordeste, com embarque em Santos, Salvador e Maceió.
Outra troca foi a do navio Fantasia pelo Musica, que comporta 724 hóspedes a menos, e fará viagens de Santos para o Uruguai e a Argentina.
Por fim, a MSC traz o Preziosa, com embarques no Rio de Janeiro e que fará viagens tanto para o Nordeste quanto para a Argentina.
Os roteiros já estão à venda nos sites das companhias.
Segundo Welster, a troca do Grandiosa pelo Seaview não foi bem recebida. “Há pessoas que compraram pelo navio e estavam esperando por ele.”
Aceitar que a viagem comprada pode não ser aquela que será realizada é uma das condições para adquirir cruzeiros agora, diz o agente. “Se o desejo for só de viajar, sem data, navio ou destino, pode ser uma boa oportunidade”, diz.
As companhias estão facilitando o cancelamento para compras feitas agora. Na MSC, quem tiver a rota alterada pode receber crédito de US$ 100 (R$ 536) para usar no navio, e também remarcar a viagem para até o fim de 2021.
Mesmo com as condições especiais, restam dúvidas sobre quais medidas serão adotadas para reduzir o risco de contágio pelo coronavírus.
“As pessoas falam que vão esperar a situação voltar ao normal para comprar. Se antes vendíamos dez cruzeiros por semana, hoje vendemos um”, diz Welster.
Poucas empresas do setor anunciaram com detalhes os protocolos sanitários que serão seguidos quando as viagens retornarem.
A Norwegian Cruise Line, que não atua na costa brasileira, é uma delas. Entre as medidas esperadas estão a adoção de um novo sistema de filtragem do ar, funcionários para servir alimentos nos bufês, medições de temperatura e limpeza mais frequente.
A MSC afirmou que “um novo protocolo de saúde e segurança está sendo desenvolvido em colaboração com autoridades de saúde”, e que “as medidas garantirão a saúde de hóspedes e tripulação.”
Em nota, a Clia Brasil, organização que representa os cruzeiros no país, afirmou que os protocolos estão em fase de ajustes, são feitos “com base na orientação das autoridades globais e locais de saúde, incluindo a OMS (Organização Mundial da Saúde), os Centros de Controle de Doenças dos EUA e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)”, e serão divulgados assim que estiverem definidos.
Apesar das incertezas, os cruzeiros têm um público fiel, que quer voltar a viajar.
O taxista Valdir Gonçalves, 60, é um deles. Ele acredita ter contraído Covid-19 em março em um cruzeiro no navio Costa Fascinosa. Valdir não teve sintomas e descobriu a doença ao tratar um cálculo renal.
“Foi o segundo cruzeiro que fiz e não vou deixar de fazer outro. Gosto de cruzeiros e me sinto bem neles”, afirma.
Da Folha