Entre os setores econômicos mais impactados pela pandemia do novo coronavírus, o turismo e a hospitalidade praticamente zeraram suas atividades e há previsões que apontam uma volta aos índices de 2019, no turismo de lazer, nos próximos 18 meses e, no de negócios, daqui a três anos.
Para traçar um panorama da situação da indústria de hotéis independentes do país e suas expectativas nesse momento de retomada, a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis – ABIH Nacional, realizou um levantamento entre os dias 10 e 16 de junho e reuniu informações sobre a situação da hotelaria independente em todas as regiões do Brasil.
De acordo com o levantamento, a hotelaria nacional independente aponta o setor ainda está com mais de 95% dos hotéis fechados e com índices de ocupação beirando a 0%. De Norte a Sul, é unânime a necessidade de liberação de crédito, modernização da legislação e melhoria da infraestrutura de acesso. A previsão na maioria dos estados é que o reinício das atividades seja entre julho e setembro.
Para o presidente da ABIH Nacional, Manoel Linhares, a MP 936/20 que suspende o contrato de trabalho e reduz o salário e a jornada, e sua prorrogação, deu um alento ao setor e vem impedindo o fechamento de centenas de meios de hospedagem formais e a demissão de mais de dez milhões de empregos.
“A Medidas Provisórias assinada pelo presidente Jair Bolsonaro trouxe um alívio para a hotelaria, mas os hoteleiros, na sua maioria absoluta, ainda não conseguiram que os bancos liberem créditos, mesmo para aqueles que não têm problemas cadastrais. Precisamos de uma força tarefa administrativa e legislativa para não só sairmos dessa crise, mas para sobrevivermos a ela, já que um hotel para atingir o ponto de equilíbrio precisa funcionar com 40% a 50% de ocupação”, alerta Linhares que também aponta a indefinição da já deficitária malha aérea como um agravante para o panorama geral e para a retomada do turismo em todo o território nacional.
No Nordeste, a reabertura de grandes grupos de hotéis e atrações turísticas devem impulsionar retomada. Segundo o presidente da ABIH do Maranhão, João Antônio Barros, além das restrições ligadas à pandemia do coronavírus, a capital São Luis, principal pólo turistico do estado, está com diversos problemas de acesso. “Nesse momento, em que o turismo rodoviário pode ser o primeiro a retomar as atividades, é importante que as autoridades invistam em melhorar os acessos à capital do estado”, comentou.
De acordo com o levantamento da ABIH Nacional, a Bahia está com 95% dos hotéis com as operações suspensas e tem a expectativa de que o início da retomada do turismo deva acontecer paralelamente à reabertura de unidades dos grandes grupos de hotéis que estão programando reiniciar suas operações em julho.
“O setor vem estabelecendo protocolos junto aos profissionais e entidades de saúde, mas a questão é que para retomar o turismo é preciso restabelecer a malha aérea. Atualmente, por exemplo, Salvador vem recebendo poucos voos”, explicou o presidente da ABIH-BA, Luciano Lopes.
No Ceará, de acordo com o presidente da ABIH-CE, Régis Medeiros, o impacto foi de 100%, mas os meses de julho e agosto devem marcar o início da retomada do turismo no estado, principalmente na capital, devido à permissão para a reabertura das barracas nas praias e à volta ao funcionamento do Beach Park, um atrativo importante de Fortaleza. “Julho ainda será muito fraco, podendo ficar entre 15% e 20% de ocupação, por conta das viagens de avião mais restritas. Acredito que devem vir os turistas regionais, que vêm de carro”, avalia Régis Medeiros.
Em Pernambuco, mais de 80% da hotelaria está fora de operação no momento. Apenas Recife mantém aproximadamente metade dos hotéis funcionando, principalmente, para atender aos funcionários das companhias aéreas e profissionais de saúde. Nas regiões turísticas de Porto de Galinhas, Praia dos Carneiros e Litoral Norte, o índice de fechamento dos meios de hospedagem chega a quase 100%. “A expectativa é que 20% dos empreendimentos reiniciem suas operações em julho, se as condições sanitárias permitirem. Esse número deve crescer para 30% ou 40% em agosto e mais 20% em setembro, quando então teríamos todos os hotéis reabertos”, explica Eduardo Cavalcante, presidente da ABIH PE.
Os índices em Alagoas são semelhantes aos dos outros estados da Região Nordeste. Estão abertos hoje cerca de 5% dos hotéis, grande parte em Maceió. “Em um dos principais destinos turísticos do estado, Maragogi, a maioria dos hotéis médios e pequenos deverão abrir em julho. Já os maiores estabelecimentos e os resorts têm previsão de voltarem às atividades apenas em setembro. Mas tudo vai depender ainda dos novos decretos governamentais”, disse André Santos, presidente da ABIH-AL.
Na Paraíba, a retomada das atividades acontece gradativamente desde o dia 15 junho, porém grande parte dos hoteleiros permanecerão com as atividades suspensas, segundo o presidente ABIH-PB, Manuelina Hardman. “Os hotéis em sua maioria estão com previsão de reabertura entre os meses de julho e agosto e alguns só pretendem retornar as atividades em setembro. Hoje estamos com 9% dos hotéis associados em funcionamento”, complementa.
Já no Rio Grande do Norte, cerca de 17% dos hotéis estão abertos. O restante têm previsão de volta gradativa, aumentando mensalmente até setembro, quando espera-se que quase todos os meios de hospedagem estejam reabertos. “O setor de hotelaria é responsável por aproximadamente 50 mil empregos no estado. O turismo é muito importante para nossa região e a reabertura dos hotéis será fundamental para a retomada da economia do estado”, afirmou José Odécio Rodrigues, presidente da ABIH RN.
Segundo o presidente da ABIH Sergipe, Antônio Carlos Franco, os meios de hospedagem do estado estão com taxa de ocupação próxima de zero desde março. “Acredito que a retomada começará no final do segundo semestre, principalmente, através do turismo rodoviário. É o cliente que não vai depender de malha aérea para viajar, e a gente está falando aqui em torno, em Sergipe, um raio de 600 km. Mas uma retomada mesmo do turismo, como no ano passado, a gente só espera para o final de 2021 ou 2022”, afirmou.