RIO – Diz o ditado que “quem converte, não se diverte”. A frase certamente remete a períodos em que a relação entre o real e as moedas estrangeiras, principalmente o dólar e o euro, era menos dramática. Com as divisas americana e europeia chegando ou ultrapassando a casa dos R$ 5, é fundamental estar atento às variações do câmbio e, sim, fazer contas para ter uma real noção do que se está gastando na nossa moeda.
– A medida (de cobrar pelo câmbio do dia) é positiva para o viajante, pois dá mais segurança e tranquilidade em relação aos custos e planejamento de viagem, já que ao final do dia ele vai saber exatamente o valor a ser pago – não vai mais precisar a fatura chegar e correr o risco de pagar a mais – explica Ricardo Teixeira, coordenador de MBA de Gestão Financeira da Fundação Getúlio Vargas.
Para a professora de Gestão Financeira da unidade do Ibmec em São Paulo, Simone Costa, a nova regra diminuiu a imprevisibilidade dos gastos numa viagem.
– Antes era sempre aquela supresinha, você podia se dar bem ou mal, dependendo da cotação no dia do fechamento da fatura. Agora é possível saber exatamente quanto se vai pagar, levando em consideração também o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras, de 6,38%) – diz a professora, ressaltando que o acompanhamento da variação cambial deve ser feito “com moderação”. – A pessoa deve se manter informada, mas não a ponto de deixar de aproveitar a viagem por causa disso.
Levar dólar ou real?
A primeira decisão que o viajante deve tomar e se sai do Brasil com reais ou moeda estrangeira. Especialistas costumam concordar que a nossa moeda não viaja bem. Por isso, o ideal é chegar no destino com a divisa local, ou, ao menos, uma mais forte, como o dólar ou euro, que possa ser trocada lá.
– E fundamental: sempre faça o câmbio diretamente no Brasil. Trocar real fora do país será sempre desvantagem – explica Teixeira, da FGV.
Qual é o melhor momento para comprar moeda estrangeira?
E se for para levar moeda estrangeira, qual é a melhor maneira de comprar ou trocar? A professora Simone, do Ibmec, explica que a forma mais segura é ir juntando, aos poucos, a quantia que se pretende levar para a viagem:- Deixar para comprar tudo de uma vez só, ou muito antes, ou em cima da hora da viagem, pode não dar muito certo. Na realidade, a forma mais segura é trocar a moeda estrangeira ao longo dos quatro ou três meses antes da viagem. Assim você consegue uma cotação média e minimiza o impacto de uma grande alta súbita, se houver.
E como levar? Dinheiro ou cartão?
Em tempos de dólar nas alturas, a melhor forma de usar o câmbio a seu favor é levando a moeda em diferentes formatos, explica Teixeira:
– No papel moeda, o IOF é bem mais baixo (1,14%), mas há o risco de perda, por exemplo. É sempre importante ter dinheiro no bolso e levar uma parte em cash, mas é preciso dividir também no cartão pré-pago e outra parte no crédito.
Entre o cartão de débito pré-pago e o de crédito, Teixeira acredita que o primeiro vale mais a pena:
– Apesar do IOF ser de 6,38% também no cartão pré-pago, compensa, porque dessa maneira você sabe exatamente o valor do dólar que está pagando antes de viajar, o que facilita o planejamento de custos. No cartão, apesar de mudança da regra, só no dia que for gastar é que você saberá o valor do dólar e, em tempos voláteis, ele pode estar maior do que imaginaria, ultrapassando o orçamento.
E qual é a diferença entre o dólar turismo e o oficial?
As seguidas altas da moeda americana frente ao real, nos últimos dias, deixaram o valor do dólar “na boca do povo”. Mas não é nesse número que a pessoa que irá viajar deve se fiar. Como alerta Teixeira, o viajante paga ainda mais caro que o mercado.
– É muito importante o turista ficar atento que: o dólar negociado na bolsa não é o cobrado nos cartões. Na hora de converter, ele deve olhar o câmbio do dólar turismo – afirma o professor.
Para se ter uma ideia, o dólar comercial fechou, na última quinta-feira, a R$ 4,65, mas o turismo, que é o que o consumidor paga nas casas de câmbio ou no banco, por meio do cartão de crédito, já ultrapassou os R$ 5. É com esse valor que o consumidor comum precisa trabalhar. Se a ideia for gastar no cartão de crédito, é importante que se saiba as taxas que o seu banco está cobrando.
E na hora das compras?
Com o dólar na casa dos R$ 5 e o euro já tendo ultrapassado essa barreira, uma das atividades preferidas dos brasileiros em viagens também será afetada. Na opinião de Simone Costa, o turista precisa redobrar a atenção ao ir às compras. Segundo ela, até esse momento deve ser planejado antes de sair de casa:
– O ideal é que a pessoa pesquise o valor do produto que deseja comprar na viagem ainda no Brasil, seja para entrar no planejamento dos gastos, seja para saber se de fato vale a pena comprar lá fora. Pode ser que a diferença no preço em dólar ou euro não compense mais, ao contrário do que acontecia em outros tempos.
E como fazer a conversão?
Para facilitar a vida dos viajantes, principalmente os que não são tão habilidosos com a matemática, alguns aplicativos para celulares e sites podem ser usados para a conversão de moedas. Essas ferramentas são úteis inclusive para comparar o valor entre moedas de diferentes países.
Recentemente, a página do Banco Central do Brasil na internet passou por uma reformulação na sua área de conversão de moedas. É possível comparar o real não apenas com o dólar americano, o euro, o peso argentino ou a libra esterlina, mas também com moedas dos mais variados países, do balboa panamenho ao franco congolês, passando pela lira turca e ao rand sul-africano (neste link).
O Banco Central também tem um aplicativo para os sistemas Android e iOS, o Câmbio Legal, com a ferramenta de conversão de moedas e uma lista de casas de câmbio reconhecidas pela entidade. Outros aplicativos de conversão bastante populares são o XE Currency e o Simple Unit Converter, que serve também para converter unidades de peso e medida, outro complicador do viajante.
De O Globo